Odes Muito Irrestritas

As Odes Muito Irrestritas, que o leitor terá o prazer de ler e das quais fui um dos primeiros e entusiasmados apreciadores, nada possuem de odes no sentido convencional e pindérico da palavra, seus elogios à vadiagem ou à doutorice balofa (muito corriqueira em nosso meio intelectual) poderiam com propriedade ser intituladas sátiras. Outras odes versam sobre acontecimentos triviais com alguma ternura e bom humor, como na “Ode aos Gatos” ou aquela dedicada à gente que trabalha no campo. Mas muitas odes surpreendem pelos assuntos herméticos que tratam, próprios daqueles que se meteram a estudar assuntos ocultistas, como na “Ode da Falsa Intuição” e outras que o autor não quis nomear; também se percebe nestas estranhas poesias (as mais interessantes de todo este pequeno livro) conhecimento das metafísicas dos filósofos neoplatônicos, tais como Plotino e principalmente Porfírio. São poemas inusitados em língua portuguesa e lembraram-me muito a obra de Paul Claudel, Jean Cocteau e outros poetas surrealistas. Mas não posso afirmar que a obra destes indivíduos foi estímulo e modelo para o Nuno, pois conversando com ele sobre as semelhanças de algumas odes com pelo menos o espírito que presidia o trabalho dos adeptos do surrealismo, ele respondeu que nunca os havia lido, deles só possuía o conhecimento dos nomes, e não da obra. As odes que o leitor tem agora em mãos neste pequeno volume mostrarão aos interessados se estou ou não com alguma razão.